Ausente há algum tempo venho aqui deixar o meu agradecimento.
Num mês particularmente complicado tenho de agradecer a quem de direito: os responsáveis pelas poucas alegrias que tive, por breves momentos, nos últimos 30 dias. O meu agradecimento vai para Scolari e seus rapazes.
Pouco me interessa se não ganhámos. Pouco me interessam os intelecto masturbadores que agora se dedicam a cair no rídículo dizendo "mas mesmo assim deviamos ter feito melhor e a culpa é de Scolari/Pauleta/Fado/x/y...". A mim só me interessa uma coisa: o imenso orgulho em ser português nestes momentos e a noção de que sem ovos é complicado fazer omoletes e que muito já fizeram estes, que me deram repito breves mas intensas alegrias.
Pena que os críticos, consumidos pelo gozo de conseguir encaixar as críticas ao brasileiro de modo a sairem bem da fotografia, não dêem por melhor empregue o seu tempo reflectindo nas verdadeiras limitações que emolduram o que conseguimos como algo verdadeiramente espectacular. De modo que não tenham de interromper a sua masturbação eu deixo aqui as verdades que não lhes interessam mas que todo o português consciente e bem agradecido deve ter em conta:
- Portugal tem 10 milhões de habitantes. Não há volta a dar a isto. Temos uma base de recrutamento limitada. Na Europa apenas a Holanda se compara a Portugal, no que concerne ao aproveitamento vs base de recrutamento. No entanto penso que qualquer conhecedor tem noção das diferenças ainda demasiado vincadas entre a formação holandesa e a portuguesa. Mesmo assim compare-se a performance de Portugal, mesmo antes de Scolari, com a da Holanda desde 2001 e a conclusão é óbvia: lideramos.
- Portugal tem uma formação desequilibrada. Não sei porquê, não percebo como, mas em Portugal só de formam médios: trincos, meios trincos, médios centros, médios avançados, médios alas e médios parvos. Depois existem ainda os extremos e aqueles que se auto intitulam "segundos pontas-de-lança". Não se formam avançados. Assumindo já que o puto futebolista é parvo por natureza, mesmo assim a culpa principal tem de ser das academias e centros de formação dos principais clubes nacionais. Ainda recementemente, no Europeu sub21 pude verificar a existência de 2,3 excelentes avançados franceses que, caso fossem formados em Portugal, seriam automaticamente transformados em médios ou extremos. Incompreensível.
- Portugal é um país mesquinho. O que Scolari e seus jogadores fizeram, fizeram-no contra um bloqueio minoritário mas mesmo assim inaceitável. Existe quem neste país teime em não dar crédito a quem o merece, enquanto que noutros países (inglaterra, espanha e até já brasil) anseiam pelo que temos. É o cúmulo do ridículo.
- Em Portugal alguns erram, outros não. É a conclusão que se me oferece tirar ao ler quem ainda tem coragem de apontar os erros (evidentes) de Scolari mesmo após tudo o que conseguiu. É que parece que apenas a Scolari não é permitido cometer erros. Todos podem cometer erros menos ele, mesmo atingindo níveis para os quais não tem bases. Concluo que existe uma pequena franja de portugueses infalíveis (e não se trata de Cavaco Silva pois este aplaudiu a selecção). Não compreendo como estamos como estamos com tantos infalíveis. Scolari comete erros como qualquer pessoa, mas os seus verdugos recusam reconhecer-lhe o mérito do que atinge. O que atinge passa a ser automaticamente o "mínimo aceitável face ao que tinha nas mãos".
Enfim... quem tiver paciência que os coma pois eu já não a tenho. Repito: identificando as limitações e erros de Scolari agradeço-lhe de forma sentida as alegrias imprevistas que me ofereceu tanto no Euro 2004 como agora no mais significativo Mundial 2006. E a quem tiver dúvidas sugiro o seguinte exercício: comparem o número de vitórias de Portugal, em qualificações e torneios, desde o início do Euro 2004 até ao final deste Mundial 2006 com os gigantes mundiais, nomeadamente os 7 que já foram campeões do mundo, e digam-me quantos ficam à nossa frente em termos de produtividade nos últimos 2,3 anos. Pois é.
Obrigado rapaziada.